Bolo de Natal
Nos Açores, não pode faltar na mesa da Consoada o Bolo de Natal. É um bolo único, que merece a honra de ser chamado Bolo de Natal, pois não existe outro que tenha tanta relevância nesta época.
Um bolo que já vai sendo conhecido para além destas ilhas e até sendo chamado como o Bolo de Natal Açoriano. Não se sabe a origem da receita, mas o contato com outras culturas, nomeadamente a inglesa e o fácil acesso a alguns ingredientes ditaram o sucesso do mesmo nestas ilhas. A permanência de comunidades inglesas nos Açores, desde a época da laranja e dos cabos submarinos, poderá ter tido forte influência nesta receita, que faz lembrar o Christmas Cake, inglês. Existem ainda nos Açores receitas mais antigas do Bolo de Natal, em que tal como no Christmas Cake, este bolo leva cebo e é cozinhado ao vapor.
Não existindo uma receita única, a mesma varia de ilha para ilha, de freguesia para freguesia ou até mesmo de casa para casa. Cada um fazia com aquilo que tinha. Farinha, açúcar e ovos são os ingredientes base, depois entra a manteiga e há quem acrescente a banha. As frutas cristalizadas que caracterizam este bolo em alguns casos são enfarinhadas, noutros são embebidas em vinho do Porto ou numa mistura de várias bebidas sendo elas a Angelica, o Licor da Amora e a Aguardente. Antigamente algumas doceiras mais prendadas, faziam as suas próprias frutas cristalizadas. Laranja, abóbora, pêra entre outras frutas eram cristalizadas para usar no Bolo de Natal e assim aproveitarem o excesso de fruta ou como meio para ultrapassar a escassez de recursos e não terem de comprar as frutas cristalizadas. Às frutas cristalizadas juntam-se os frutos secos (nozes, amêndoas e pinhão), figos passados, passas ou ameixas, o bolo era tanto mais rico quanto mais abastada fosse a casa. Nas casas menos abastadas, o bolo era feito sem frutas cristalizadas ou frutos secos, sendo também chamado Bolo Podre. No Bolo de Natal não podem faltar colheres generosas de doce de frutas e em algumas receitas de marmelada, mais uma vez cada um juntava o que tinha em casa. O mel de cana ou melaço também são ingredientes essenciais. Por fim, as especiarias que chegaram a estas ilhas com os Descobrimentos e aqui entra a canela, a noz-moscada, o cravinho e em algumas receitas o cacau e o gengibre.
Diz a tradição que este bolo deve ser feito com algumas semanas de antecedência e guardado à temperatura ambiente embrulhado em papel vegetal molhado ou não em Vinho do Porto. Cada doceira procurava os ingredientes ou truques para que tornassem o bolo mais húmido e apetitoso.
Reza também a lenda, que este era o bolo que os navegadores levavam nas suas viagens, devido a sua grande durabilidade. E se neste Natal restar bolo, congele que daqui a um ano ainda estará bom ou até melhor.
Dado a riqueza deste bolo, o mesmo também era usado como bolo de casamento e se no Natal o mesmo era servido simples, pelos casamentos era enfeitado com glacê de açúcar.
Na Inglaterra chama-se Christmas Cake, nos Açores Bolo de Natal, em Cabo Verde este bolo chama-se Bolo de São Vicente. Este último também feito naquelas ilhas por altura do Natal e que também se crê que a sua origem esteja no Christmas Cake, inglês. Este bolo terá entrado na tradição de São Vicente pelo contacto com a comunidade inglesa, devido ao importante papel do Porto Grande na navegação internacional, esta ilha desde cedo também foi fortemente influenciada por outras gentes e culturas.
E depois de todos estes apontamentos, fica aqui a minha versão do Bolo de Natal.
BOLO DE NATAL
Ingredientes:
500 grs de farinha com fermento
500 grs de açúcar
500 grs de manteiga
8 ovos
500 grs de mistura de fruta cristalizada, com passas figos e frutos secos
30 ml de aguardente
30 ml de vinho de porto
30 ml de angelica ou licor de amora
2 colheres (de sopa) de doce de figo
2 colheres (de sopa) de doce de uva
um frasco de melaço
1 colher (de chá) de noz moscada
2 colheres (de chá) de canela
raspa de 1 limão
uma pitada de sal
Modo de preparação:
Bater a manteiga com o açúcar. Adicionar um a um os ovos e de seguida os restantes ingredientes, sendo o último a farinha. Vai ao forno, em forma untada, a 180ºC.
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