Pudim de Feijão dos Frades do Convento da Horta

 Hoje não vos trago uma receita, mas sim uma história. A receita é segredo e foi trocada há muitos anos pela estadia de um frade numa casa particular, quando se extinguiram os conventos no Faial. 



Pudim de Feijão dos Frades do Convento da Horta


Em tempos muito remotos, havia uma família rica e distinta que tinha um filho, muito senhor de si, determinado e apaixonado. Não se queria subjugar à vontade do pai, nas suas relações amorosas, como era hábito no tempo. Quando chegou a altura, rejeitou casar-se com a noiva que a família lhe tinha escolhido, entre as raparigas da sua estirpe social e que havia de trazer consigo um dote gordo para engrandecer os bens da família.

O pai não se conformou e, já que o filho não queria casar com a noiva que lhe tinha escolhido, não casaria com mais ninguém. Obrigou-o a encerrar-se num convento e a fazer-se frade.

Passado algum tempo o dito rapaz, filho daquela família rica, veio ter a um convento da Horta. Como estava habituado à comida da sua casa, da sua cozinheira, sentia, por vezes, muita falta das iguarias que tinha comido em criança. Lembrava, frequentemente, os doces que a sua cozinheira fazia de propósito para o seu menino e, nesses momentos, não conseguia evitar um suspiro de saudade.

Uma certa vez o jovem frade recebeu uma encomenda dos pais. Trazia amêndoas, cidrão, outras frutas cristalizadas ou passadas e mais comidas menos perecíveis.

Não resistiu à tentação, foi para a cozinha e tentou lembrar-se de como as suas criadas faziam os doces. Juntou açúcar, massa de feijão branco, ovos, cidrão, amêndoa e fez um grande pudim que cozeu no forno de lenha do convento. Quando ficou pronto, o jovem religioso e demais confrades deliciaram-se com o pudim inventado.

A partir de então passaram a fazê-lo, no convento, com alguma regularidade, nos dias de festa. Mais tarde a receita atravessou as paredes do convento e a população da Horta começou a confeccionar o saboroso pudim. Ainda hoje é um doce muito característico do Faial e ainda se dá pelo nome de Pudim de Feijão dos Frades do Convento da Horta.


Source

FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.259

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