Favas guisadas

Dia 24 de junho, é dia de festejar São João e é também o feriado municipal da cidade da Horta.
Muitos dos costumes de São João já não se mantêm nos nossos dias como antigamente, alguns foram modificados e outros até mesmo desapareceram.
Noutros tempos, na véspera do Dia de São João à noitinha, faziam-se fogueiras e reuniam-se à volta destas amigos e conhecidos tocando instrumentos, bailando a chamarrita e cantando. Os jovens aventuravam-se a saltar à fogueira e assim ficavam pela noite dentro até acabar a lenha.
No dia de São João pela manhã cedo, os homens iam tirar o leite às vacas, que normalmente, nesta época do ano se encontravam no mato, vinham a casa por o leite e regressavam para cima com as suas famílias e em grupos iam cantando a São João pelos caminhos e atalhos até ao mato. Era dia de acordar cedo para fritar o frango e os entrecostos, o cheirinho dos petiscos era o melhor despertador e acordávamos ansiosos pelo dia em que se comia no chão, em cima da manta de retalhos.
Havia ainda ranchos de pessoas, que também pela manhã iam dar a volta à borda da Caldeira, levando consigo sacas de retalhos nas quais colocavam a comida e numa saquinha mais pequena não podiam faltar as favas torradas e os amendoins. Ao passarem por um sitio direito paravam para merendar. Uma volta à caldeira levava mais ou menos duas horas.
As pessoas que não iam dar a volta à Caldeira ficavam na Ermida junto à borda, que infelizmente foi levada pelo sismo de 9 de Julho de 1998, tenho sido anos mais tarde reconstruída. Havia também quem aproveita-se para descer a caldeira e em latas traziam de lá os peixinhos que existiam nas lagoas. Estes peixes serviam para colocar em bebedouros e cisternas para comerem as impurezas da água.
Após isto as pessoas que estavam na borda e que eram do lado sul desciam até à Ermida de São João. Os do lado norte, mais especificamente as pessoas do Salão, Ribeirinha e Pedro Miguel vinham para a Quebrada ou então para os seus sarrados. Quando vinham ou iam para a Caldeira era ponto de paragem obrigatório as Bicas, onde se refrescavam com água fresca da nascente.
Na Quebrada as pessoas ao som dos instrumentos de corda, cantavam e bailavam a chamarrita.
Para comer levavam favas torradas (que é típico da época), queijo, pão alvo que não era habitual comerem, bolachas caseiras e vinho. Havia ainda quem fizesse grandes biscoitos de massa sovada a que chamavam biscoitos de São João.
No final dos anos 90 as pessoas começaram-se a reunir no Parque do Cabouco, mas dizem os antigos que se reúnem menos pessoas do que no passado. O São João acabava à tardinha com a vinda das pessoas em ranchos para suas casas.
A festa de São João na estrada da Caldeira junto à Ermida de São João, como se conhece nos dias de hoje foi promovida mais recentemente pela Câmara Municipal, incluindo nesta as marchas.
As raparigas novas costumavam fazer diferentes jogos nestes dias, por exemplo:
- Colocavam dentro de um copo, água e bilhetes embrulhados com o nome dos amados, deixavam durante a noite na rua e de manhãzinha retiravam o bilhete que estivesse mais desembrulhado o nome lá escrito seria o do amado escolhido;
- Colocavam três favas debaixo da almofada uma toda descascada, uma só com metade descascada e outra sem ser descascada. De manhã tiravam uma à sorte. A fava toda descascada significava que a pessoa seria pobre. A fava só com metade descascada a pessoa não seria nem pobre nem rica teria uma vida estável em termos económicos. A fava que não foi descascada a pessoa seria rica;
- O primeiro homem que uma rapariga visse ao sair à rua no dia de São João, dizia-se que era com um homem com o mesmo nome que esta se iria casar;
- Colocava-se três dias antes de São João uma clara de ovo num copo meio de água à janela. Na manhã de São João a clara poderia apresentar diferentes formatos. Exemplo, uma igreja quer dizer que iria-se casar, um barco queria dizer uma viagem, etc;
- Colocava-se numa bacia na véspera de São João rosas e água, no dia de São João lava-se a cara com esta água para dar sorte;
- Colocavam num pano preto um caracol tapado com uma peneira, no dia seguinte o caracol teria desenhado um letra que seria a primeira letra do homem que a rapariga se iria casar.
Muitas mais tradições haveria para contar, ficaram apenas alguns apontamentos de como se vivia este dia noutros tempos.
Nos nossos dias de hoje, algumas pessoas vão mantendo a tradição das fogueiras na véspera do dia de São João, juntando amigos para conviver, sendo muitas vezes o ponto de partida para ir até à Ermida da Estrada da Caldeira, onde a Câmara Municipal promove as grandes festas de São João.
Pela manhã, muitas famílias dirigem-se até ao Cabouco, com o objetivo de guardar uma mesa e começarem os preparativos para os churrascos. Da ementa do almoço para além dos churrascos, o entrecosto e o frango frito, as favas guisadas, continuam a fazer parte da tradição deste dia, brinda-se os amigos com um petisco e um copo de vinho do Pico e vai-se convivendo saltando de mesa em mesa. Depois do almoço, que sabe sempre diferente neste dia, há quem aproveite para dormir uma sesta, outros para dar os seus passeios. A música improvisada com um rádio a pilhas dá o ambiente aos festejos, onde não faltam os tradicionais "Vivas a São João...", sempre que aparece uma pessoa nova ou passa um carro enfeitado com rosas de São João e Hortênsias.
Na foto os meus avós paternos, pai, tia e prima a caminho de São João, de notar a saca de retalhos. 


FAVAS GUISADAS

Ingredientes:
1/2 kg de favas secas
200 ml de azeite
2 cebolas pequenas
6 dentes de alho
2 colheres (de sopa) de tomatada
1 colher (de sopa) colorau
1/2 colher (de sopa) canela
1/4 colher (de sopa) de cominhos
1 raminho de salsa picada
5 folhas de hortelã picada
piri-piri a gosto

Modo de preparação:
Cozer as favas em água e sal, tendo estas sido previamente demolhadas. Cortar as cebolas em meias luas e levar a refogar em azeite até ficarem transparentes. Juntar o alho picado, bem como os restantes ingredientes, deixar apurar uns minutos e retificar de temperos e azeite, se necessário. Colocar as favas escorridas e envolver no molho. Já com o lume desligado, deixar descansar um pouco, para as favas absorverem os sabores.

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